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Turbantes – Moda, Religião e Outras Histórias

CULTURA Terceira de dez irmãos e criada sem mãe, Negra Jhô saiu do Quilombo da Muribeca, em São Francisco do Conde – região metropolitana da capital baiana, em meados dos anos 80, com destino à Salvador em busca de liberdade. Reconhecida como cidadã soteropolitana pela Prefeitura de Salvador em 2011, Valdemira Telma de Jesus Sacremento, 55, nome por detrás do pseudônimo de Negra Jhô, começou a trançar cabelos e criar turbantes ainda quando criança. E tem sua história marcada por lutas e superações.

“Quando eu era criança, meu pai me deu uma boneca Susi no Natal, mas eu olhava pra ela e não via nada parecido comigo: era branca, magra, do nariz afilado, loira e dos cabelos longos e lisos; eu era uma menina com cabelo 'carapinha', quieta e sem corpo definido. Então, peguei a boneca, trancei o cabelo, coloquei um monte de conchinha do mar e pintei o corpo dela com tinta” relata a ícone da estética afro na Bahia, Negra Jhô. “Quando minha madrasta viu a boneca daquele jeito ela me deu uma surra e eu não entendia o porquê, eu olhava pra boneca e achava a coisa mais linda do mundo!”, conta com saudosismo.

Negra Jhô – “eu não sou do movimento negro, eu sou uma negra em movimento”.

Com o lema “Sem luta não há história”, Negra Jhô começou sua trajetória em Salvador fazendo tranças e turbantes na escadaria de Jorge Amado, no Pelourinho. “Você nunca vai me ver sem turbante. As pessoas não sabem da minha história, que quando eu era criança era discriminada dentro da minha própria casa pelos meus familiares por causa da minha cor e do meu cabelo carapinha, então o turbante foi o meu refúgio e a minha proteção” conta Negra Jhô. “Todo mundo usa turbante e nem sabe, quando a gente toma banho e enrola a toalha na cabeça, aquilo é um turbante”, complementa.


Para muitos, turbante é símbolo da cultura e beleza afro, mas além da África outros povos e culturas também utilizam esse acessório com outros significados e funções. A verdade é que ninguém sabe onde e quando surgiu o turbante. No Oriente Médio, onde predomina o Islamismo, o turbante tem uma função religiosa muito importante: é na cabeça que as decisões ocorrem, então é como se o turbante envolvesse e protegesse os pensamentos e é usado somente pelos homens. Na Índia, o turbante é o principal símbolo da religião Sikh, homens e mulheres adeptos não devem cortar seus cabelos, e sim envolvê-los nos turbantes. Ainda na Índia, é usado para proteger a cabeça do clima severo do deserto e cada modelo representa a casta de quem usa.

Modelos de turbantes da Negra Jhô Segundo Negra Jhô, nas religiões de matriz africana, o turbante é uma força ancestral e tem como função de proteger o orí (cabeça-cérebro). “Na nossa religião (camdomblé), as mulheres (iás) usam o turbante e, a depender do modelo, nós sabemos o cargo que ela ocupa. Na nossa culinária usamos turbante por uma questão de higiene; o turbante é a nossa coroa”, explica.

Por volta de 1920, o estilista francês Paul Poiret lançou os turbantes no mundo fashion, logo depois a estilista francesa Coco Chanel também aderiu o acessório. Mas foi nos anos 60 que o turbante ressurgiu como símbolo da cultura negra nos movimentos que lutavam pelos direitos civis. Hoje, o turbante é visto a cada esquina, utilizado em passarelas do mundo todo de uma forma democrática: homens, mulheres e até crianças usam os tipos diversificados do acessório, por beleza e praticidade como também por afirmação cultural. E é nessa vertente que trabalha Dora, criadora da marca Com Amor, Dora. Ela começou os trabalhos handmade (feito à mão) em 2012, depois de voltar de uma viagem a São Paulo, na qual trouxe como lembrança para uma amiga querida uma tiara de pano com arame.

Dora Alves em sua loja-ateliê

Curiosa, Dora Alves, 26, desfez a tiara a fim de descobrir como era feito e, a partir daí, começou a criar acessórios femininos para cabelo. “Comecei comprando retalhos e pedaços de arame e fui fazendo, comecei vendendo pela faculdade, quando vi, já tinha um nome”, conta a professora, empreendedora e designer de moda. Com Amor, Dora comercializa um tipo específico de turbante, mais conhecido como torço, um turbante menor. "Minha inspiração é a Avenida Sete, você olha o tecido, curte a padronagem de estampa, identifica sua clientela e pronto”, complementa. Com a loja-ateliê inaugurada em setembro, Dora define sua clientela como 'fofa': “Aqui não tem cliente emburrada, triste, de ‘cara fechada’, são sempre pessoas alto-astral, sonhadoras, mas com a cabeça no lugar”. Na Com Amor, Dora além de turbantes e faixas, vendem quimonos, necessaries, além de produtos de marcas handmade parceiras. Se você se interessou sobre a história e uso dos turbantes e quer saber um pouco mais sobre o trabalho de Negra Jhô e Dora, visite-as. Confira abaixo no serviço. Serviço Negra Jhô Rua Frei Vicente, 04, Pelourinho.(71) 3321-8332 // (71) 99162-7239 Com Amor, Dora Rua Odilon Santos, Shopping Rio Vermelho, Sala 208, Rio Vermelho. Segunda à sexta-feira das 10h às 18h, e sábado das 10h às 16h.(71) 981688774

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