CULTURA
Batalha Real MC na Praça Tereza Batista, Pelourinho (Foto: Reprodução Facebook)
“Open bar não é pagamento”, dispara Evilásio Cruz, o “Shark”, figura importante nos eventos de rap que rolam em Salvador, sobre o cenário do rap baiano e valorização dos artistas da terra. Evilásio, 21, está na “cena” há quase dez anos e hoje tem a sua própria empresa no ramo, a SoulRap. Ele trabalha mixando músicas para diversos artistas da cidade no seu Home Studio, montado em 2008, além de viabilizar shows de rappers baianos e nacionais que vêm se apresentar na capital baiana.
Shark nos conta as dificuldades de se fazer e viver desse estilo musical por aqui: “É difícil viver de rap no Brasil, mais difícil ainda viver de rap em Salvador. Os produtores que fazem os eventos de rap de grande porte ainda não olham para nós do rap baiano como artistas sérios, põem a gente para preencher horário, pagam ‘merreca’ para, segundo eles, ‘divulgar nosso trabalho’”.
Evilásio Cruz, o "Shark" (Foto: Montagem/Acervo pessoal)
Ainda diante de todas as dificuldades enfrentadas para expandir este estilo musical, Evilásio vê perspectiva de melhora no cenário rapper. “As coisas estão começando a funcionar agora, porque estamos exigindo e batendo de frente com esses 'produtores'”, enfatiza Shark, que já gravou e trabalhou com Mc’s conhecidos no meio, como Rapadura (CE), Mr Break (RJ), R.Braz (BA), entre outros.
As Batalhas
Evilásio também produz as famosas Batalhas de Mc’s – competições de rimas entre rappers que acontecem em casas noturnas conhecidas na cidade, como a Dubliners Irish Pub, no Rio Vermelho, até “picos” underground do rap em Salvador, como a Real MC, no mesmo bairro, e a 3º Round, no Pelourinho. Além das apresentações, nessas casas há espaço para a venda de CDs dos artistas. Shark nos coloca a par das regras dessas competições: “A Batalha de Mc's é uma batalha de rimas entre 2 Mc's no qual cada um tem um tempo determinado para fazer as rimas, que podem ter um tema definido ou livre. O público e os jurados definem o vencedor”, explica. Um dos principais nomes dessas Batalhas é Larício Gonzaga, 18 anos, que vem há pouco mais de dois anos colecionando troféus cuja conta já se perdeu de vista. O artista participa, em média, de quatro batalhas por mês em Salvador e cidades vizinhas. “Acho que só ano passado ganhei umas trinta Batalhas”, tenta contabilizar.
Larício, campeão de várias Batalhas de MCs (Foto: Acervo pessoal/Facebook)
Em meio as dificuldades de se produzir rap em uma cidade onde predomina o axé e o pagode, Evilásio espera bons frutos de todo o trabalho que ele e os grupos da cena soteropolitana vêm desenvolvendo: “Tem grupos de rap ousando, fazendo seus próprios eventos com mais frequência. Os produtores que realizam outros tipos de festas também estão começando a produzir eventos de Rap com artistas de fora porque estão vendo grande retorno financeiro – por isso estão acontecendo mais eventos de rap na cidade. Em termo de qualidade musical, também estamos bem. Salvador já mete as caras há muito tempo, mas estamos começando a colher os frutos agora”, finaliza.