COMPORTAMENTO
Tristeza, angustia, baixa auto-estima, pensamentos obsessivos e obscuros. Você já deve imaginar de qual doença estamos falando. Muitas vezes tratada com desdém, chamada de “frescura” ou besteira, de tristeza temporária, pode ser algo mais. A depressão é uma doença neurológica e uma das mais comuns dos transtornos mentais, podendo ter vários tipos: a clássica que é o tipo comum da depressão, a distimia, o transtorno bipolar e a sazonal.
A doença é pouco abordada pela mídia, por ter em seu histórico casos de suicídios. De acordo com a Organização Mundial da Saúde essa conseqüência da doença vem matando mais que o HIV. Porém, o assunto sempre vem à tona quando alguém da mídia sofre com ela. O caso mais recente foi o do jornalista Ricardo Boechart que sofreu de um surto agudo de depressão poucos minutos antes de entrar ao ar, o caso repercutiu no país inteiro e causou comoção.
Outras celebridades também já sofreram com a depressão, como Adriana Esteves, Vera Fischer, Carmen Miranda e a cantora e atriz americana Demi Lovato - tendo até sido internada. As celebridades que passaram por essa situação, tendem contar sua história para que assim sirva de exemplo para seus admiradores.
No Brasil, a doença ocupa a primeira posição no ranking dos países desenvolvidos e é uma das principais causas de incapacitação. O estresse e a insegurança são as principais causas da depressão no país, porém em países mais desenvolvidos os casos são ainda mais freqüentes. Em uma das cidades consideradas mais feliz para se viver, a Suécia, é onde o índice de suicídio é o mais alto do mundo.
Em conversa com a psiquiatra e psicanalista Dra. Maria da Conceição, que atua na Fundação de Neurologia e Neurocirurgia – Instituto do Cérebro, nos tira algumas duvidas sobre a doença.
AternaAtiva: Como é feito o diagnostico da doença?
Dra: A doença pode ser diagnosticada por duas vertentes: a subjetiva e a objetiva. A subjetiva é pelo o que o paciente fala com sentimento de tristeza, um choro fácil, a ideação autodestrutiva, as tentativas de suicídio, desejo de isolamento, a insônia. O primeiro sintoma é a insônia, muitas vezes o paciente perde o sono e não sabe que está depressivo. Os sintomas objetivos o paciente muitas vezes não tem consciência, está alheio, ele não está mais se arrumando. O objetivo quem percebe é o outro. O paciente está com a cara triste, se recusando a usar produtos de higiene, já não toma banho todo dia, sente muito frio, tem dificuldade de se despir, de se ver, a auto-estima fica muito baixa; o paciente mostra-se irritado, por vezes agressivo, emagrece, perde a consciência do próprio corpo, inapetência.
O diagnostico da depressão não é muitas vezes simples de se fazer, porque tudo isso pode acontecer com qualquer pessoa em um determinado momento da vida. Tudo tem que ser avaliado por conjunto, se persiste por algum tempo. Pela Organização Mundial de Saúde a partir de duas semanas após o aparecimento dos sintomas já pode ser considerado depressão.
AternaAtiva: Porque o índice de pessoas com depressão está crescendo no mundo?
Dra: A globalização, essa facilidade que você tem de se comunicar via internet e tudo, os sintomas estão sendo muito divulgados, imitados. O índice de adolescentes com depressão é alto, existem sites que ensina como se matar (!). Eu tenho atendido meninas entre 12 e 16 anos auto-mutiladas, que são altamente influenciadas por coisas que já viram na internet. Óbvio que são pessoas que já têm seus próprios problemas e tendência a depressão. Você pode considerar os fatores estressantes também muito grandes: instabilidade, muita insegurança, o desemprego. Tudo isso poderá precipitar quem já tem a tendência.
AternaAtiva: Por que as pessoas relutam tanto em procurar ajuda em caso de depressão?
Dra: Porque essa ajuda é com o psiquiatra, o preconceito não é contra a depressão é contra o psiquiatra. Então você esta se sentindo triste, arredio, com pensamentos horríveis, autodestrutivos, obsessivos, você vai para um pai de santo, para um centro espírita, tomar um passe, beber água, faz limpeza de corpo, vai para uma série de coisas alternativas e por ultimo você procura um psiquiatra. Enquanto isso, a doença vai se agravando por conta do preconceito, da psicofobia. E também porque causa do estigma, acha que quem vai ao psiquiatra é louco.
AternaAtiva: Existe uma forma de prevenção da doença?
Dra: Eu posso pensar assim, se você vem de uma família em que o índice de suicídio ele é alto ou acontece a depressão também você terá que ter uma política de contenção, de acolhimento com os seus familiares, é diferente. É uma família vulnerável, e se você também já teve uma vez é necessário poupar essa pessoa de estresse e ter paciência.