CIDADE
Calçadas esburacadas, passeios altos, chuva, sol quente, engarrafamento, pegar ônibus lotado. Se já é difícil a acessibilidade em Salvador para quem não tem deficiência, imagina para um cadeirante que depende do transporte público. Cinto de segurança danificado, elevador que, por não ter a manutenção no tempo certo, não funciona com tanta eficiência. O cadeirante ainda depende da boa vontade de alguns passageiros, tendo que entrar no coletivo carregado, para enfim, chegar ao seu destino. Ao sair de casa o cadeirante já imagina o transtorno que terá de enfrentar.
É o caso de Evilásio Francisco dos Santos, 47, senhor da foto ao lado, que conta com tristeza sobre sua dificuldade de se deslocar para fazer seus tratamentos médicos. Evilásio é cadeirante e reclama da falta de acesso nos lugares que deseja e precisa ir. Ao sair de casa, olha a rua, sente vontade de voltar, pois as calçadas não são adaptadas às suas condições físicas. Morador do bairro de Santa Cruz, umas das localidades do complexo Nordeste de Amaralina, conta-nos, com tristeza, as péssimas condições que encontra ao pensar em dar um passeio pela cidade. “Salvador não está preparada para receber pessoas especiais. Encontrar rampas é algo raro, só tem em poucos lugares, dificultando a nossa vida limitada”. A falta de estrutura da cidade obriga os cadeirantes a ficarem dentro de casa.
Os pontos de ônibus da capital são para tomar chuva e sol, à mercê da previsão do tempo. Por certa vez, Evilásio, ficou exposto ao sol num ponto de ônibus durante aproximadamente 50 minutos, não que o ônibus não passasse, mas ele aguardava uma condução que tivesse um elevador para acomodá-lo. A espera não foi tão difícil quanto ao constrangimento que passou: o elevador do ônibus não funcionou. Segundo a Secretaria de Mobilidade Urbana (SEMOB) a frota média atual é de 2.680 ônibus, sendo 2.300 adaptados, um avanço excepcional, com mais de 85% da frota de coletivos possuem adaptação para cadeirantes.
A falta de manutenção nos equipamentos é uma realidade. Se não fosse a população que o auxiliasse a subir para o ônibus, ele teria que esperar, talvez mais de uma hora para chegar ao seu destino. “Alguns elevadores não funcionam, cintos de segurança danificados, e temos que contar com a sorte para encontrar um motorista gentil e humano”, completa Evilásio. A SEMOB afirma que realiza vistorias anuais programadas e inspeções permanentes nas frotas, visando identificar possíveis problemas. Além disso, as empresas possuem serviço de manutenção mecânica nas próprias garagens.
Constrangimento, palavra muitas vezes usadas por Evilásio, um sentimento presente na vida de um cadeirante que resolva sair de casa para usar os coletivos da cidade de Salvador, quase que impossível se movimentar nesta cidade nessas condições físicas. Apesar dos avanços nos coletivos é preciso adaptar as calçadas para uma adequada segurança para os cadeirantes.
Acompanhamos Elivásio numa manhã, no trajeto de sua casa até o parque da Cidade, localidade próxima da sua residência, com distância apenas de 2,2 km, percebemos que ele teve que ir para ponto de ônibus pela pista, pois as calçadas não o ajudava a chegar, aumentando risco de acidentes. Pelas calçadas do Parque da Cidade Joventino Silva, já revitalizadas, não há rampas que dessem acesso aos cadeirantes. É claro que a sociedade tem uma divida estrutural para com os especiais.