COMPORTAMENTO
O corpo ideal para você é o “magro”, “avantajado” ou “musculoso”? Atualmente, não se ver tanta vontade em ter um corpo magro, tampouco, se ouve falar com frequência em anorexia. Está sendo mais comum as pessoas desejarem ficarem cada vez mais musculosas, algumas sabendo o limite e outras ultrapassando sem se dar conta das consequências.
Tudo se inicia pela insatisfação com o próprio corpo: pessoas que passam horas fazendo musculação e controlam excessivamente a alimentação para conseguirem adquirir músculos e se sentirem mais agradáveis. Apesar de todo o esforço, nunca estão satisfeitas e seguem sua busca incessante pela perfeição corporal. Será normal ou essas atitudes já podem indicar um distúrbio psicológico? Sim, esses são os primeiros sinais de que a pessoa tem um transtorno chamado vigorexia.
O psicólogo Júlio César Hoenisch, 46, especializado em saúde pública pela Fundação Oswaldo Cruz, disse que a vigorexia é um transtorno da linguagem corporal e que esta doença tem crescido e vem se tornando mais comum do que se imagina. Salienta que a mídia tem uma influência limitada neste caso, pois a vigorexia pode estar presente numa condição clínica associada a outras mais graves, e normalmente as pessoas que tem um nível de vulnerabilidade maior, como os adolescentes, podem, em alguns casos, ser instigado pelos meios de comunicação.
Júlio César complementa que esta obsessão compulsiva há tratamento psicoterápico e medicamentoso, mas que se não tiver atenção devida, com a utilização de anabolizantes, silicone industrial ou óleos de animais, pode levar a morte.
Nessa tendência em ter o corpo sarado, a pessoa descarta a possibilidade de aceitar quem realmente é. Para ela, suas atitudes são normais e saudáveis. Além da insatisfação este transtorno está ligado a um glamour, a um status de maior valor, reconhecimento e aceitação.
Sem acompanhamento adequado os exercícios se tornam perigosos, diz o personal trainer Wallace Allan, 23. Disse que sempre está enfatizando aos seus alunos que eles devem estar com a mente equilibrada, fazendo um pouco de todos os exercícios e buscando entusiasmo por vários aspectos da vida e não focado na meta imposta pela mídia e pela sociedade. Adverte que o físico musculoso perfeito é quando o indivíduo consegue atingir seu limite natural muscular, sem a utilização de substância imprópria.
Wallace salienta que essa prática exaustiva de exercícios é o significado do padrão atual da sociedade, mas que muitos dos seus alunos estão fazendo o uso de suco detox, chá 30 ervas, shake emagrecedor. “Atualmente está sendo mais comum a procura por receitas fit, mas é claro que outras pessoas decidem optar por outros métodos, sabendo que há caminhos simples, fácil, sem dieta balanceada para se chegar ao corpo desejado.”
A vigorexia é tida como um transtorno obsessivo-compulsivo e os vigoréxicos se veem fracos, magros, apesar de serem fortes. Revela-se uma autoimagem distorcida, um ideal que nunca é alcançado. A psiquiatra e professora adjunta do Departamento de Neuroeficiência de Saúde Mental, da Faculdade de Medicina da UFBA, Aline Sampaio, explica que é um transtorno novo, mas que está dentro dos transtornos alimentares.
AlternaAtiva: O que leva as pessoas a ficarem com essa obsessão?
Dra.: Não se sabe exatamente. É um assunto somatório de causas, existem algumas vulnerabilidades para desenvolver este transtorno, geralmente tem uma personalidade que é a mais perfeccionista, a mais preocupada com o que o outro vai pensar, com uma tendência ser extremamente persistente e de pouca flexibilidade, um traço de personalidade de risco.
AlternaAtiva: Você acha que a mídia influencia em relação a isto?
Dra.: Existe influência da mídia. Os transtornos alimentares sempre existiram, a anorexia antigamente também existia, mas com outra finalidade, a magreza era vista como um símbolo de pureza, santidade. Mas hoje, os padrões, a mídia, o que aparece na televisão, tem uma influência desde o adolescente, até o adulto jovem, o que entra na faixa de risco.
AlternaAtiva: Quais os sinais que podem indicar este transtorno?
Dra.: Quando a pessoa abre mão de outras atividades em nome da malhação ou de uma certa alimentação, ela restringe o comportamento dela. A pessoa termina passando mais horas na academia do que o indicado, termina não tendo tempo para descansar o suficiente, as atividades ficam muito voltadas para um único objetivo que é de ganhar massa muscular e acaba se submentendo à situações que levam danos a saúde, como o acúmulo de aminoácidos que o organismo não consegue metabolizar, a quebra das fibras musculares, insuficiência renal, quadro depressivo.
AlternaAtiva: Como a família deve se comportar convivendo com um caso desse?
Dra.: A família pode sinalizar que acha que é exagerado, que a pessoa passou dos limites. E isso cabe a família mesmo, indicar impor, levar a um tratamento, porque muitas vezes a pessoa quando está no auge da doença ela não consegue perceber isso como um problema. Para a pessoa o médico vai receitar os remédios, mudar a alimentação, com medo dele não fazer e com receio de ficar magro, fraco. E isso cabe também aos educadores físicos que muitas vezes percebem, sinalizam e não se sentem à vontade, mas eles têm que entender que aqueles exercícios prejudicam a saúde, impor limite ao aluno, se necessário até suspender as atividades ou sinalizar a um familiar”.
AlternaAtiva: Há tratamento para este transtorno?
Dra.: Existe tratamento. O tratamento é combinado, com psicoterapia, a terapia familiar e algumas vezes é necessário o uso de medicação, para isso a pessoa precisa fazer uma avaliação psiquiátrica, também é necessário um acompanhamento clínico, para avaliar se houve sequelas pelo uso inadequado de suplementos, anabolizantes e às vezes pela consequência do exercício físico extenuante ou na parte circulatória e renal. E a família precisa está envolvida neste tratamento, para receber orientações de como lidar com o paciente em casa, como manejar para reduzir as consequências desses excessos.