COMPORTAMENTO
Não é de hoje que encontramos pela cidade caminhões vendendo comida, já virou até costume sair no final de semana para comer lanches em alguns desses caminhões. O que parece ser novidade na cidade, existe desde 1872. Criado por Walter Scott para suprir as necessidades dos trabalhadores de uma fábrica nos Estados Unidos o food truck (caminhão de comida) surgiu como uma opção de lanches rápidos, práticos e baratos. Os caminhões carregaram a fama de comida barata e ruim por um tempo, até virar opção para os chefes desempregados pela crise que invadiu os Estados Unidos em 2002.
O food truck se popularizou neste mesmo ano nos Estados Unidos, suas comidas foram se tornando mais requintadas e o investimento no negócio foi crescendo. No cardápio dos Estados Unidos é possível encontrar yakissoba, cheesecake, kebab, hambúrguer, tacos, sorvete, lagosta, temaki, comida indiana, latina e asiática.
Se pararmos para observar parece que já estávamos na moda antes mesmo de ela chegar aqui com o nome food truck. Os famosos carrinhos de churrasco grego, churros, cachorro-quente, cuscuz de tapioca, pipoca, milho e amendoim já faziam sucesso por lugares pela cidade. Hoje, eles não deixaram de existir, apenas foram atingidos por um raio gourmetizador. Isso mesmo, em 2012 as comidas que antes eram simples se tornaram mais sofisticadas e com um precinho um pouco mais salgado.
Em Salvador, os food trucks se popularizaram após a realização da Feira da Cidade, evento que acontece há um ano e reúne gastronomia, artesanato, musica e arte. O evento não tem um lugar fixo para acontecer, já foi realizado na Av. Centenário, Barra, Rio Vermelho, Pituba e Jardim de Alah. O cardapio dos food trucks baianos é variado, vai de acarajé a yakissoba. Alguns já têm seu espaço garantido, como o Coxa Coxinha que serve coxinha de todos os tipos, o Sushi Trucks, Churrito e a Santa Paleta, que serve as famosas paletas mexicanas. Além dos food trucks, as vendas acontecem nas food bikes que são bicicletas adaptadas para carregar expositores, que é o caso da PopBike que serve a pipoca gourmet e da Brigadeiro di Lu que vende doces gourmet e tradicionais.
A jornalista Luana Rios, 24, depois muito analisar, resolveu investir num food truck. Ela, juntamente com uma amiga, Camila Soeiro, 25, buscaram algo que coubesse no orçamento e que atendesse a proposta de oferecer qualidade de vida e consumo sustentável. “Nossa inspiração foram os food trucks paulistas por lá está a mais tempo consolidado. Teve um em especial, o Kombosa Shake, retrô e vintage, numa Kombi, como o nosso.” complementa Luana.
Sobre as dificuldades de desenvolvimento de um food truck, Luana diz que o maior obstáculo quando começaram foi a falta de regulamentação e de critérios para serem seguidos na montagem da cozinha. “Nós fomos deduzindo as coisas que seriam ideais para nossa cozinha e fomos modificando e adequando à medida que fomos observando a atuação dos food trucks em outros estados que já eram firmes nesse ramo.” salienta.
As empreendedoras, Camila Soeiro e Luana Rios
O cardápio é a parte mais atrativa de um food truck e, segundo a jornalista, é também a parte mais complicada “Contratamos um chefe de cozinha que já trabalhava na área para criar nosso cardápio. Esse foi nosso maior desafio, porque não podia ser um cardápio extremamente radical. A gente teve que oferecer opções mais atrativas e opções que iam exatamente ao encontro da nossa proposta, que é qualidade de vida e oferecer um alimento saudável. Então nós temos desde crepe com filé a um crepe completamente vegano.” destaca a empreendedora.
O Soul Food Truck está previsto para inauguração no mês de novembro, com a proposta de alimentação saudável e qualidade de vida. “Nosso público não é só as classes A e B, mas principalmente jovens que estão em busca de uma vida mais saudável e que respeitam o consumo sustentável.” completa a jornalista.
Muito se engana quem pensa que é só ter o seu caminhão, estacionar em qualquer lugar e começar a vender. No dia 4 de setembro do ano em curso, a lei que regulamenta a atividade foi sancionada. Para a venda ser legalizada é necessário que os alimentos sejam embalados para a comercialização, precisam ter rótulos com nome e endereço do fabricante, distribuidor e ou importador, data de fabricação e prazo de validade. Para vender e estacionar é necessário ter uma licença da prefeitura.
Só serão autorizados a funcionar os food trucks que tiverem inscritos no Cadastro Informativo Municipal (CADIN). Os caminhões, furgões, trailers, kombis e congêneres precisam manter uma distância mínima de 50 metros entre o veiculo e um ponto fixo de vendas de alimento. Na Praça Ana Lúcia Magalhães, no bairro da Pituba a comercialização foi proibida, devido ao grande fluxo de pessoas e veículos.
A preocupação é tanta que em janeiro de 2015 os chefes Gabriel Lobo e Alessandra Hattori criaram a Associação de Food Trucks & Comida de Rua da Bahia. A associação conta com o apoio da Empresa de Turismo de Salvador (SALTUR). Os chefes percorrem as ferias que acontecem na cidade realizando palestras e workshops sobre o que é preciso para montar um food truck.
De acordo com a chefe de cozinha Alessandra Hattori, proprietária do Lekatruck e presidente da associação, a capital baiana oferece condições ideias para o movimento de comida de rua. “Os espaços públicos estão recebendo investimentos da prefeitura. Salvador é uma cidade quente que tem um ar limpo, tem o maior carnaval do mundo. Além do mar e da orla que favorece receber eventos como o food truck”, disse.
Alessandra destaca também que a apesar dos pontos positivos, existem algumas questões que precisam ser solucionadas para consolidação da atividade: “É necessário um planejamento antecipado com relação à logística, o trânsito, a chuva, o sol excessivo e o abastecimento do caminhão, já que o veículo não pode se locomover enquanto atende os clientes”.
Praça Wilson Lins, no bairro da Pituba
A Praça Wilson Lins, no bairro da Pituba é um dos locais fixos onde acontece a venda das diversas especialidades culinárias. Dentre os pratos oferecidos ao púbico estão: Sanduiches sucos, sorvetes, picolés, cachorro-quente e hambúrgueres. As comidas chamadas gourmet feita com produtos sofisticados e diversos custam aproximadamente entre R$ 10 a R$ 25 reais. Mas é o preço que não agrada muito os consumidores. A estudante Pamela Rodrigues, 27, diz que a comida é muito boa, mas que o preço é salgado: “o que se paga numa comida de food truck é praticamente o mesmo que se paga num restaurante, com todo conforto e regalias. Então às vezes não vale muito a pena.” complementa a estudante.
Até a TV se rendeu ao fenômeno que são os food trucks. Existem programas de TV dedicados à atividade, como o programa Food Truck: O Desafio, de origem americana que escolhe duas duplas para apresentarem sua ideia de empreendimento, com cardápio e design e a dupla que vender mais lanches ganha um prêmio em dinheiro e seu próprio food truck. O Brasil já ganhou a sua adaptação, Food Truck: A Batalha, nos mesmos moldes do programa americano.
A tecnologia certamente ajudou a tornar os food trucks mais populares, atualmente já existem aplicativos que tornam mais fácil a localização dos caminhões. As fans pages Guia Food Truck Salvador e FOOD PARK Salvador se dedicam ao trabalho de divulgar food trucks que atuam em Salvador, além de promover eventos relacionados à atividade.
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