Obras no bairro do Rio Vermelho - sobrou até para as pedras portuguesas
- Texto: Vinicius do Carmo | Fotos: Newton Soares
- 25 de set. de 2015
- 3 min de leitura
CIDADE

Extinto Mercado do Peixe em obras
Assim como na orla da Barra e em outras obras promovidas pela Prefeitura de Salvador na tentativa de requalificação de espaços públicos da cidade, no bairro do Rio Vermelho há muitas críticas dos moradores, comerciantes e frequentadores, sobrando até para ítens tradicionais como os passeios de pedras portuguesas.
Dentre as queixas da população, como a perda do Mercado do Peixe para dar lugar à quiosques gourmet – transformando o local em um canteiro de obras infindável – cerca de duzentos moradores formaram o grupo Movimento Rio Vermelho em Ação, tendo como principais reivindicações a cobrança de um debate sobre o projeto de requalificação iniciado no bairro com a comunidade, preservação ambiental, e a não elitização, segundo o Movimento, dos espaços públicos no bairro.

Antônio Carlos e Suzana Maia no Rio Vermelho
Quem nos conta são os moradores Antônio Carlos, 61, químico e morador há 27 anos e Suzana Maia, 49, antropóloga e moradora do bairro do Rio Vermelho há 20 anos. "Tivemos uma perda incrível como o Mercado do Peixe, onde foram perdidos centenas de empregos diretos e indiretos e estamos sendo obrigados a perder cada vez mais árvores, espaços públicos para um processo de gentrificação, que é uma padronização violenta, retirando características próprias do bairro para um modelo que só interessa a Prefeitura e um pequeno grupo de comerciantes", explica a antropóloga.
Já Antônio Carlos alerta para um processo de desertificação que pode ser causado com a perda desses espaços públicos: "Estão tirando espaços de convivência como o Mercado do Peixe, onde reunia pessoas de diferentes classes sociais e retirando árvores antigas onde as pessoas jogavam dominó na sombra, por exemplo. A consequência disso é um processo de desertificação do bairro, porque as pessoas estão perdendo os espaços onde antes se encontravam", afirma.
Pedras portuguesas: polêmica

Prefeitura substitui passeios de pedras portuguesas por concreto
As reformas no bairro não pouparam nem mesmos os tradicionais passeios de pedras portuguesas, alvos de um debate sem consenso. Se por um lado grande parte dos moradores, dentre eles Antônio Carlos e Suzana Maia, citados acima, defendem os passeios de pedras portuguesas como "patrimônio cultural do bairro", exaltando sua beleza e história, comerciantes e outra grande parte da população defendem a substituição por passeios de concreto.
É o caso da garçonete Cinara Ribeiro, que trabalha no Boteco do França há 13 anos, localizado numa viela famosa do Rio Vermelho, que até pouco tempo possuía os passeios das tradicionais pedras, defende a mudança: "Ficou muito mais fácil de limpar, fora que algumas clientes que usavam salto alto reclamavam bastante ao andar sobre elas. Eram bonitas, mas pouco funcionais", conta sem saudosismo.

Novo piso de concreto do Boteco do França
Opinião parecida tem a comerciante Mônica, 55, moradora do bairro há 25 anos. Ela defende, veementemente, a substituição dos passeios de pedras portuguesas pelos de concreto por questões de funcionalidade e higiene: "As pedras são bonitas? São, mas hoje utópicas. Acho que em Salvador não cabem mais se olharmos do ponto de vista higiênico da população e a falta de manutenção da Prefeitura. Caminho todos os dias pela orla e vejo pedras soltas, podendo causar acidentes gravíssimos", relata.
Resposta da Prefeitura
Nossa equipe entrou em contato com a Secretaria de Infraestrutura, Habitação e Defesa Civil para falar sobre as obras em curso no bairro e foi informada que as obras no trecho do Rio Vermelho, em vigor desde abril deste ano, fazem parte de um programa de requalificação da orla da cidade e continuarão. A Secretaria ainda informa que o órgão está aberto à diálogos com moradores e comerciantes do bairro.